Arlindo Machado
1. O que o autor define como as estéticas
informacionais?
Visavam construir modelos matemáticos rigorosos,
capazes de avaliar a informação estética contida num objetivo dotado de
qualidades artísticas. Tinha como meta aplicar à produção artística princípios
formulados na confluência da teoria da informação com a cibernética.
2.
Em que
sentido o autor aplica o mesmo raciocínio de Walter Benjamin sobre a fotografia
e o cinema em relação à arte produzida com recursos tecnológicos?
Que o importante é perceber que a existência das obras
a partir do uso dos novos recursos tecnológicos colocam em crise os conceitos
tradicionais e anteriores sobre o fenômeno artístico, exigindo novas
formulações diante das transformações que estão ocorrendo, de uma nova situação.
“As novas
tecnologias introduzem diferentes problemas de representação, abalam antigas
certezas no plano epistemológico e exigem a reformulação de conceitos
estéticos” (p. 24).
3.
Comente as
seguintes passagens a respeito da relação da arte com a tecnologia:
“Podemos
considerar a relação da arte com a tecnologia como um casamento marcado
por períodos de harmonia e de crises conjugais” (P. 24).
O
autor faz referências à concepção grega da arte vinculada à palavra téchne, de
tecnologia, que representa qualquer prática produtiva sem distinção entre arte
e técnica, o que perdurou até o período renascentista. As atividades artísticas estavam
estreitamente relacionadas aos avanços científicos no Renascimento. Diversos
artistas adotavam e desenvolviam princípios com base na matemática e na física,
por exemplo, para realizarem seus trabalhos, que não ficavam restritos a
pinturas e esculturas. “... a máquina torna-se modelo conceitual para explicar
e representar o universo físico natural” (p. 25).
O
autor argumenta que a arte do século XX encontra-se em sintonia com os saberes
e questões do seu tempo, assim como no período da arte grega, fazendo
referências a diversos movimentos artísticos do início do século passado.
Machado
afirma que: “Exposições recentes dedicadas ao tema das relações entre arte e
tecnologia (...) demonstraram que se torna cada vez mais difícil fazer uma
distinção categórica entre objetos originários da imaginação artística, da
investigação científica e da invenção tecno-industrial” (p. 25).
E
acrescenta apontando para o fato de que importantes centros de pesquisa
estética na contemporaneidade são localizados em institutos de pesquisa
tecnológica ou científica.
No
entanto, o “divorcio” ocorreu no Romantismo, com os conceitos de genialidade
individual e o papel do imaginário na arte. A partir desse conflito a arte
torna-se autônoma e institucionalizada, o que deu início ao processo de especialização
durante o século XVIII e foi fundamental para definir o novo “contrato
matrimonial entre arte e tecnologia”, onde passam a ser partes distintas. A
adoção de uma “postura sem submissão e sem papeis fixados na relação” foi a
grande contribuição do romantismo para a arte em relação às tecnologias.
“Toda arte produzida no coração
da tecnologia vive, portanto, um paradoxo e deve não propriamente
resolver essa contradição, mas pô-la a trabalhar como um elemento formativo” (p.
28).
A arte não precisa e não pode
ficar sujeita a procedimentos de padronização, de ordenamentos precisos e sem
improvisação. “A arte é indiferente a qualquer tecnologia”, se alimenta e se
realiza em processos de liberdade do imaginário, de certo grau de
imprevisibilidade e ludicidade, de muita criatividade e autenticidade.
“(...) a arte produzida no
coração das mídias e das tecnologias colocam os artistas no centro das
engrenagens de poder, ao mesmo tempo em que afetam diretamente os modos de
produzir e consumir, de comunicar e controlar da sociedade como um todo. Aquele
que hoje se propõem exercitar o imaginário a partir de instrumentos, processos
e suportes colocados pelas tecnologias de ponta devem estar preparados para
enfrentar as regras de mercado, as instituições de controle e gerenciamento de recursos;
devem também saber exatamente até onde podem ceder ou abrir mão de sua
liberdade, sem comprometer a radicalidade de suas propostas. Em contrapartida,
sua arte, longe de se confinar em museus, galerias ou salas de concerto, se fará
penetrar em todos os lugares, difundindo-se por ondas eletromagnéticas ou por
cabos telefônicos e ampliando ao infinito através dos satélites de comunicação.
Pode-se dizer que essa arte tende a perder em concentração, estilo e
refinamento, o que, por outro lado, ganha em amplitude, penetração e alcance
social.” (p. 32)
4. Comente o pensamento de Villém Flusser sobre o
papel do artista na era das máquinas que foi exposto pelo autor:
O termo “funcionário da transmissão”,
usado por Flusser sobre o papel do artista na “era da automação”, de certa
forma, e como também está sendo tratado no texto, não fica restrito a esse período
de desenvolvimento e apropriações intensas das tecnologias. No momento em que o
artista é “contratado” ou recebe uma encomenda, por exemplo, na maioria das
vezes sua criação fica restrita a um propósito ou contexto específico, são
impostas limitações à sua criação. Ainda assim o artista lança mão de sua
autonomia e de sua capacidade criadora e técnica para se expressar, mesmo
diante dessas condições. E essas limitações que podem ser diversas, por exemplo, tanto em
relação aos instrumentos ou recursos disponíveis como em relação ao tema ou condições
específicas, não impossibilitam o trabalho artístico.
Acredito que os artistas, e em grande medida os
cientistas, sempre se apresentaram como os responsáveis (direta ou
indiretamente) por vislumbrar novas possibilidades ou apontar novos caminhos.
Desenvolvem seus trabalhos considerando não somente as perspectivas que se
apresentam de forma objetiva e que estão postas ou impostas, buscam o que está
além, o devir. Nesse sentido, independente do contexto atual, de certa
necessidade de utilização de recursos tecnológicos e das condições impostas pelo
sistema complexo de desenvolvimento no processo de criação artístico, o artista
continua sendo (talvez de forma mais acentuada e em condições mais adversas) fundamental
no processo de transgressão e exercício de liberdade, de vislumbrar novas
possibilidades.
5.
A partir da
leitura da seguinte passagem, discuta como o paradoxo mencionado na questão 3
está relacionado com o papel do artista.
“Sem
a intervenção desse imaginário radical, as máquinas sucumbem nas mãos dos
funcionários da produção, que não fazem senão preenchê-las com “conteúdos” de
mídias anteriores, repetindo em linguagens novas soluções já cristalizadas em
linguagens mais antigas” (p.28).
Que diante dessas mudanças, da
intensificação e mesmo imposição no uso das novas tecnologias, é fundamental o
desenvolvimento de projetos culturais e estéticos que ampliem as possibilidades
dos novos meios para propor e enriquecer o universo cultural. Não podemos ficar
restritos ou submissos aos aspectos simplesmente técnicos dos equipamentos,
assim como das constantes “novas” descobertas tecnológicas. E os artistas podem
ser decisivos nos processos de criação e novas formas de percepção do mundo a
partir desses avanços (ainda que sujeitos às imposições da indústria, dos
dispositivos tecnológicos e do mercado).
6.
O que seriam as máquinas semióticas defendidas
pelo autor?
São máquinas dedicadas á
tarefa de representação.
7.
O autor
aponta pelo menos duas limitações que comprometem a argumentação dos críticos
da fusão arte/tecnologia. (p.36) Explique cada uma delas:
Primeira: a crítica aos
determinismos da máquina pode ser aplicada a qualquer processo cultural de
qualquer tempo. Os artistas sempre estiveram sujeitos, em certa medida, às
determinações de sua matéria e às possibilidades de uso de seus instrumentos de
trabalho.
Segunda: nem o mais fechado
dos sistemas simbólicos pode ser reduzido à medida e determinações de
possibilidades. As limitações de manipulabilidades são constatações teóricas,
que podem na prática ser expandidas. A imaginação do homem, que cria,
desenvolve e usa as máquinas, jamais será passível de restrições ou poderá ser
quantificada.
8.
Explique as
mudanças ocorridas com a arte tecnológica no que diz respeito ao papel
desempenhado pelo autor na criação artística (p.33-44).
As
máquinas desempenham um papel fundamental na atividade simbólica do homem
contemporâneo, que pode ser mais ampla que as formas de utilização normalmente
praticadas.
A
evolução técnica não pode ser entendida (ou vista) simplesmente como redutora
do campo da criatividade estética e que a máquina (e seus construtores) impõem
limites intransponíveis à liberdade de criação artística. Existem, em grande
quantidade, os “apertadores de botão” ou “funcionários da transmissão”, que não
fazem mais que cumprir e celebrar as promessas das máquinas e as finalidades do
sistema industrial. Que os “produtos” desses supostos “artistas” são frutos muito
mais das tecnologias das máquinas e dos processos produtivos do que do talento
e da capacidade criadora.
No entanto, não se pode
afirmar que o artista está condenado ás imposições e limitações das tecnologias.
“A questão principal, enfim,
não é saber se o artista se torna menos ou mais livre, menos ou mais criativo
trabalhando no coração das máquinas, mas se ele é capaz de recolocar as
questões da liberdade e da criatividade no contexto de uma sociedade cada vez
mais informatizada, cada vez mais imersa nas redes de telecomunicações e cada
vez mais determinada pelas representações que faz de si mesmo através da
indústria cultural” (p. 38-39).
9.
Comente as
mudanças no estatuto do receptor com o surgimento da arte tecnológica a partir
da seguinte passagem:
“A recepção é, portanto incorporada ao
circuito produtivo como um mecanismo de diálogo, responsável pela consistência
do produto final em cada uma de suas infinitas manifestações” (p. 40).
Talvez a obra de arte de todos
os tempos tivesse como condição subjacente não somente a criação artística
individual, mas uma operação dialógica que participam diversos agentes e
fatores, e que, de certa forma, o envolvimento dos “receptores de produtos culturais”, ou, de forma talvez inadequada, dos
espectadores, sempre foi parte integrante e fundamental para a manifestação
artística. Um fator de grande relevância nos artefatos artísticos provenientes
dos recursos tecnológicos na contemporaneidade é, sem dúvida, o receptor. “Componente”
incluído no processo de produção artística para a efetiva “conclusão” (ou
execução e realização) da obra, ou seja, a figura do espectador passivo e
observador dá lugar ao “espectador-autor” para a efetivação do artefato
artístico. A experiência que o
artista e o “espectador” (agora participante) vivenciam juntos com a obra de
arte seria um pressuposto na Arte Digital, o que está inserido nas definições e
atributos da media art, assim como a utilização das novas tecnologias.
Se a arte até certo momento privilegiou uma
postura quase que simplesmente contemplativa tanto do artista como do público,
os movimentos de busca por novas formas de manifestação e expressão a partir do
final do século XIX - mas principalmente no início do século XX - incitaram ou
promoveram criações que estivessem voltadas para a nossa capacidade reflexiva,
indagadora, cognitiva e participativa. O que, até certo ponto, possibilitou a
ampliação do sentido de arte, das produções artísticas que surgiram a partir de
então, especialmente em conexão com os avanços tecnológicos.
Acredito que o posicionamento de Lygia Clark,
em meados nos anos de 1960, sobre o papel do artista, considerando as
transformações dos movimentos e conceitos que ela vivenciara de forma teórica e
prática como artista, traduz em grande parte o que seria a Arte Digital, ou
seja, dar ao participante (que era até então somente observador) um papel
fundamental no objeto de arte, o objeto só passa a ser importante com o
envolvimento do participante, que será, então, um “espectador-autor”.
MACHADO, Arlindo. “Máquina e Imaginário”, in
Machado, Arlindo (1993). Máquina e Imaginário: O desafio das poéticas
tecnológicas. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo.
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