segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Culturas e Artes do Pós-Humano


Lúcia Santaella

1.    Qual é a relação entre a seguinte passagem do texto de Santaella e o conceito de arte tecnológica exposto no texto de Martin Heidegger “The question concerning technology”?

“Nessa medida, a arte tecnológica se dá quando o artista produz sua obra através da mediação de dispositivos maquínicos, dispositivos estes que materializam um conhecimento científico, isto é, que já têm uma certa inteligência corporificada neles mesmos.”

A diferença apresentada por Heidegger entre a técnica pré-industrial e a técnica moderna, também entendida como tecnologia, está na presença do conhecimento científico nesta última. Ou seja, a tecnologia está fundamentada na ciência moderna, tem como base os avanços das ciências originários no século XVII. Dessa forma, o desvelamento da verdade (poiesis) como uma forma de existência do homem no mundo potencializada pela técnica, apresenta-se, após a revolução industrial, com base no conhecimento científico, na capacidade de ampliação da ação e produção do homem.

A arte tecnológica ocorre a partir da fusão da técnica com a ciência. Conforme a passagem do texto de Santaella, e considerando a afirmação de Machado sobre as relações cada vez mais estreitas entre imaginação artística, investigação científica e invenção tecno-industrial, podemos inferir que a partir do momento em que o artista compreende e busca amplificar a “inteligência corporificada” atribuída por Santaella aos dispositivos máquinicos, que são utilizados nos processos de criação (elaboração e produção) artística, a arte pode ser entendida como uma possível saída do processo de “Gestell”.

“(...) a arte produzida no coração das mídias e das tecnologias colocam os artistas no centro das engrenagens de poder, ao mesmo tempo em que afetam diretamente os modos de produzir e consumir, de comunicar e controlar da sociedade como um todo. Aquele que hoje se propõem exercitar o imaginário a partir de instrumentos, processos e suportes colocados pelas tecnologias de ponta devem estar preparados para enfrentar as regras de mercado, as instituições de controle e gerenciamento de recursos; devem também saber exatamente até onde podem ceder ou abrir mão de sua liberdade, sem comprometer a radicalidade de suas propostas” (MACHADO, 1993, p. 32).

Heidegger indaga sobre a importância ou possibilidade de não tratarmos a técnica como mero meio, alertando para o fato de que não está errado tratá-la como determinação instrumental, mas ainda que seja correta a determinação instrumental da técnica, isso não nos mostra sua essência - ou a verdade.
  

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